Com que roupa eu sou?
Andamos pelas ruas, vamos ao trabalho, pegamos ônibus, carona, vamos à balada, comemos num boteco, bebemos com os amigos, vamos a um casamento ou a um velório... Cada uma dessas ocasiões demanda um tipo de traje. Será?
Quando olhamos para um colega de classe de jeans e tênis pensamos: o cara está indo pra aula, ou para a casa de algum colega jogar vídeo game, bem, ele não deve estar indo num aniversário, porque aquela camiseta tem um furinho perto do pescoço e a gola ta meio frouxa. A menina de vestido e sandálias deve estar indo ao shopping cm as amigas fazer compras, ou com o namorado ao cinema, não deve estar indo atender na emergência de um hospital, não é mesmo? Certo?
Errado.
Ambos eram colegas de classe de uma turma do último ano de medicina, e estavam indo trabalhar nos postos de saúde. Ele estava indo para a Lagoa e ela para a Costa. Ambos gostam de pessoas, gostam de atender, gostam de clinicar e gostam de estudar a mesma coisa: atenção primária. Por que então são tão diferentes?
Porque são indivíduos distintos, não um único ser. Ao colocarem a bata branca sobre as vestes transformam-se num símbolo: o DR/DRA.
Dona Maria saiu de casa às pressas, dormia seu sono pós almoço e acabou se atrasando para a consulta na Costa da Lagoa. Chegando esbaforida na porta do Centro de Saúde se depara com uma moça alegre, ajudando a Dani (a agente comunitária) a arrumar a árvore de Natal na recepção do posto. Enquanto o Bruno procura seu prontuário a moça ouve o nome da dona Maria e a saúda: Dona Maria, esperava mesmo pela senhora! Eu sou a aluna nova do Dr Arthur, estou estudando no último ano de medicina e queria saber se a senhora deixa eu fazer a sua consulta desta vez.
Surpresa pela recepção a senhora consente, e recebe um abraço da estudante que a conduz até a porta do consultório. Lá elas conversam sobre os problemas que tanto afligem a dona de casa, trocam experiências e até mesmo algumas gargalhadas. Depois de alguns minutos, a estudante conversa com o Dr Arthur e juntos decidem a melhor conduta para o caso. A estudante leva o pré-resultado à paciente que se mostra um tanto incomodada por ter de usar tantos remédios... A estudante resolve então fazer um pacto terapêutico com Dona Maria, ambas conversam, descobrem onde cada uma pode ceder e o que será melhor para o dia a dia da paciente, e assim a paciente sai do consultório satisfeita, com a decisão terapêutica, que foi concluída também com a sua opinião.
Enquanto isso no posto da Lagoa, o colega coloca seu jaleco e chama o próximo paciente. Era o senhor Genésio, que estava com depressão (diagnóstico escrito o prontuário). O jovem aprendiz perguntou ao paciente se ele havia tomado a fluoxetina e se tinha melhorado dos sintomas de hipersonia e astenia. Seu Genésio olhou para o estudante e falou: Ô Dr, o Paulão não vem hoje não? O estudante sorri e responde: Está na sala do lado, logo vou levar seu caso para ele.
Seu Genésio fala pouco durante a consulta, manos ainda durante o exame.
Quando o estudante chama o Dr Paulo, o paciente pede para ter um particular com o Dr. E então se abre com o seu médico de confiança.
No fim do dia, Dr Paulo vai conversar com seu aluno e explica a ele que nem sempre precisamos estar vestidos como doutores, ou mudar nosso jeito de falar ou agir para que os pacientes confiem na gente, o importante é saber achar a porta para o coração deles, para que eles possam se abrir com você, e confiar. Precisamos ser nós mesmos, humanos, esse sempre é o caminho mais curto, mais fácil, natural. O vínculo médico paciente não é uma amizade, é um pacto de segurança em que ambas as partes saem beneficiadas pela doação mútua. Não há relação médico-paciente sem confiança.
Enquanto isso, na Costa da Lagoa, a doutoranda é chamada pelo Dr Arthur para uma advertência. Não deveria mais vir de trajes como vestidos, ou saias, especialmente atender sem jalecos, pois isto não era uma postura de médica, e que “as pessoas estavam comentando”. Muda, ela pensou nas aulas e nas literaturas a que teve acesso e pensou: Será Meu Deus, que estou entendendo tudo errado?
Quando olhamos para um colega de classe de jeans e tênis pensamos: o cara está indo pra aula, ou para a casa de algum colega jogar vídeo game, bem, ele não deve estar indo num aniversário, porque aquela camiseta tem um furinho perto do pescoço e a gola ta meio frouxa. A menina de vestido e sandálias deve estar indo ao shopping cm as amigas fazer compras, ou com o namorado ao cinema, não deve estar indo atender na emergência de um hospital, não é mesmo? Certo?
Errado.
Ambos eram colegas de classe de uma turma do último ano de medicina, e estavam indo trabalhar nos postos de saúde. Ele estava indo para a Lagoa e ela para a Costa. Ambos gostam de pessoas, gostam de atender, gostam de clinicar e gostam de estudar a mesma coisa: atenção primária. Por que então são tão diferentes?
Porque são indivíduos distintos, não um único ser. Ao colocarem a bata branca sobre as vestes transformam-se num símbolo: o DR/DRA.
Dona Maria saiu de casa às pressas, dormia seu sono pós almoço e acabou se atrasando para a consulta na Costa da Lagoa. Chegando esbaforida na porta do Centro de Saúde se depara com uma moça alegre, ajudando a Dani (a agente comunitária) a arrumar a árvore de Natal na recepção do posto. Enquanto o Bruno procura seu prontuário a moça ouve o nome da dona Maria e a saúda: Dona Maria, esperava mesmo pela senhora! Eu sou a aluna nova do Dr Arthur, estou estudando no último ano de medicina e queria saber se a senhora deixa eu fazer a sua consulta desta vez.
Surpresa pela recepção a senhora consente, e recebe um abraço da estudante que a conduz até a porta do consultório. Lá elas conversam sobre os problemas que tanto afligem a dona de casa, trocam experiências e até mesmo algumas gargalhadas. Depois de alguns minutos, a estudante conversa com o Dr Arthur e juntos decidem a melhor conduta para o caso. A estudante leva o pré-resultado à paciente que se mostra um tanto incomodada por ter de usar tantos remédios... A estudante resolve então fazer um pacto terapêutico com Dona Maria, ambas conversam, descobrem onde cada uma pode ceder e o que será melhor para o dia a dia da paciente, e assim a paciente sai do consultório satisfeita, com a decisão terapêutica, que foi concluída também com a sua opinião.
Enquanto isso no posto da Lagoa, o colega coloca seu jaleco e chama o próximo paciente. Era o senhor Genésio, que estava com depressão (diagnóstico escrito o prontuário). O jovem aprendiz perguntou ao paciente se ele havia tomado a fluoxetina e se tinha melhorado dos sintomas de hipersonia e astenia. Seu Genésio olhou para o estudante e falou: Ô Dr, o Paulão não vem hoje não? O estudante sorri e responde: Está na sala do lado, logo vou levar seu caso para ele.
Seu Genésio fala pouco durante a consulta, manos ainda durante o exame.
Quando o estudante chama o Dr Paulo, o paciente pede para ter um particular com o Dr. E então se abre com o seu médico de confiança.
No fim do dia, Dr Paulo vai conversar com seu aluno e explica a ele que nem sempre precisamos estar vestidos como doutores, ou mudar nosso jeito de falar ou agir para que os pacientes confiem na gente, o importante é saber achar a porta para o coração deles, para que eles possam se abrir com você, e confiar. Precisamos ser nós mesmos, humanos, esse sempre é o caminho mais curto, mais fácil, natural. O vínculo médico paciente não é uma amizade, é um pacto de segurança em que ambas as partes saem beneficiadas pela doação mútua. Não há relação médico-paciente sem confiança.
Enquanto isso, na Costa da Lagoa, a doutoranda é chamada pelo Dr Arthur para uma advertência. Não deveria mais vir de trajes como vestidos, ou saias, especialmente atender sem jalecos, pois isto não era uma postura de médica, e que “as pessoas estavam comentando”. Muda, ela pensou nas aulas e nas literaturas a que teve acesso e pensou: Será Meu Deus, que estou entendendo tudo errado?
Será que ela está?